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Come to Brazil: um chamado do universo
Rachel Chinouriri

Come to Brazil: um chamado do universo

Rachel Chinouriri, favoritinha dos brasileiros, é capa digital da Billboard

O fã brasileiro tem sido um dos mais cobiçados do mundo nos últimos anos. Fiéis, engajados e dispostos a qualquer contato com seus ídolos, nós somos famosos por lotar shows aos berros apaixonados e por inundar comentários de publicações nas redes sociais com a tão conhecida frase: “come to Brazil” (venha para o Brasil, em tradução livre). Sorte de quem cai no nosso gosto — e foi justamente isso que aconteceu com a britânica Rachel Chinouriri, de 26 anos.

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Nascida em Kingston, no sudoeste de Londres, na Inglaterra, ela sempre teve um interesse forte por culturas diversas. Seus pais se mudaram do Zimbábue para o Reino Unido pouco tempo antes de seu nascimento, e ela cresceu rodeada por múltiplas influências — das tipicamente britânicas, como Daughter e Lily Allen, ao drill, um subgênero do hip-hop muito consumido em Croydon, cidade onde ela passou a maior parte da infância e adolescência.

“Um dos cantores que mais ouço é K-trap, um rapper daqui. Acho ele incrível. Eu ouço de tudo, mas acho que o fato de eu ouvir drill talvez surpreenda as pessoas”, contou Rachel em entrevista à Billboard Brasil, enquanto conversávamos sobre sons que ela aprecia e fizeram parte da sua criação. “Eu nasci, cresci e fui criada nesse tipo de cultura, apesar de fazer música pop-indie”.

Venha pro Brasil!

Pois bem. Como explicar a chegada da música de Rachel ao Brasil? Nem ela mesma sabe. A cantora, que se apresenta em São Paulo no dia 1º de outubro, no Cine Joia, de repente se viu cercada por fãs brasileiros — nas redes sociais, nos shows e até na vida pessoal (sua fotógrafa é daqui). Pela internet, recebe mensagens carinhosas e até presentinhos, como caixas de doces típicos para experimentar.

[Correção: Rachel Chinouriri se apresenta no Cine Joia, em São Paulo, e não na Audio conforme publicado anteriormente.]

Rachel Chinouriri
Rachel Chinouriri estampa a capa digital da Billboard Brasil (Lauren Harris/Divulgação)

Rachel começou sua trajetória na música aos 17 anos, fazendo experimentações e mergulhando em temas que ela aborda até hoje: luto, disformia corporal, a vida sendo de uma família imigrante, questões raciais, traumas familiares, amor-próprio, relacionamentos (bons e ruins) e até pensamentos suicidas. “Eu não tinha noção que as pessoas iriam se identificar até começar a fazer shows ao vivo”, contou. No início, costumava subir suas canções no SoundCloud, até que em 2018 começou a lançar mixtapes e EPs.

Foi nessa fase que lançou a faixa “So My Darling”, que viralizou nas redes sociais anos depois do lançamento, em 2022. Ela chegou a ser usada em mais de 40 mil vídeos no TikTok. A partir daí, seu nome começou a ganhar força na Inglaterra, com aprovação da crítica local, que exaltava especialmente o talento de Rachel como compositora.

Ela continuou lançando músicas que consolidaram seu caminho como aposta do britpop, entre elas “All I Ever Asked”, “Give Me a Reason” e “Darker Place”. O primeiro álbum chegou em 2024: “What a Devastating Turn of Events”. Já em 2025, apresentou o EP inédito “Little House”, que revela um lado mais leve da artista.

Ouça ‘Little House’, de Rachel Chinouriri

“Eu sempre fiz essas músicas para mim mesmo, rodeada dos meus amigos. Quando vi que as pessoas estavam se identificando, eu notei que eu realmente tinha me exposto. É algo estranho de se fazer, porque muitas pessoas vão ouvir, né? Mas eu acho que eu sempre fiz as coisas por mim mesmo, e eu sei que muitas pessoas sentem coisas parecidas. Então, espero que a minha música possa ajudar”.

O impacto do álbum de estreia foi imediato: Rachel entrou entre as mais ouvidas na Inglaterra e emplacou o disco nas paradas do UK Albums Chart. Rachel foi convidada para uma sequência de eventos musicais, como Big Weekend, promovido pela BBC e até o Glastonbury, um dos maiores festivais do Reino Unido e do mundo. “Sempre me surpreende o fato de as pessoas ouvirem minha música, especialmente quando elas saem da minha bolha. Eu acho que tudo o que aconteceu em 2024 foi muito surreal, sou extremamente grata por tudo”.

Para além dos sucessos nas redes sociais, festivais e charts, Rachel  começou a abrir shows de outros artistas britânicos, como Lewis Capaldi, em 2023, e Louis Tomlinson, ex-integrante do One Direction, naquele mesmo ano. Foi aí, inclusive, que a cantora acredita que conseguiu cativar os brasileiros.

“Louis tem fãs no mundo inteiro, mas os do Brasil são diferentes. Meus fãs se juntaram aos dele, e aí a coisa aconteceu”, conta. Louis de fato tem uma presença poderosa em solo nacional, já tendo feito diversos shows por aqui, incluindo um no Allianz Parque, em São Paulo.

“Sempre que eu posto qualquer coisa, os primeiros comentários são dos fãs do Brasil. E eu fiquei tipo: ‘Ok, o que está acontecendo?’. Eu não sei se o universo está me deixando um sinal, mas eu acabei conhecendo vários brasileiros em todos os lugares possíveis. Eu realmente não sei o que o universo está dizendo, mas eu preciso claramente ir para onde ele está me falando para ir”.

Rachel Chinouriri
Rachel Chinouriri (Lauren Harris)

Lidando com a fama

A grande virada que cravou o nome de Rachel como um nome para ficar de olhos e ouvidos atentos veio com o convite para abrir os shows de Sabrina Carpenter no Reino Unido e Europa. A popstar estava na estrada com a turnê do disco “Short N’ Sweet”, colhendo os frutos do sucesso repentino de seu trabalho, e convidou Chinouriri para lhe acompanhar. A partir daí, o repertório da britânica conquistou os fãs de Sabrina, e sua popularidade disparou.

Com tudo isso, Rachel viu sua vida mudar de repente. Antes, ela era uma garota que colocava suas músicas honestas e íntimas em plataformas de streaming na internet de forma despretensiosa, e agora estava diante de multidões apresentando essas mesmas canções.

Navegando nesse território — que ela descreve como familiar, mas desconhecido — Rachel tem dado um passo de cada vez. Sempre fez terapia, mas passou a ter consultas semanais, sem faltar. Mesmo em turnê, sua psicóloga a acompanha à distância. “Não sei se estou me acostumando ou apenas me ajustando. Já estou nessa indústria há quase dez anos, mas é a primeira vez que tenho tanta gente me ouvindo. É como se fosse algo já conhecido, mas que ainda não tinha acontecido comigo”.

Com o sucesso, ela tem visto sua fanbase crescer e enxergá-la como um símbolo de representatividade. “Eu recebo muitas mensagens, e até cartas, de gente bem jovem, de 16, 17 anos. Obviamente eu sei como eles se sentem, porque sou 10 anos mais velha e consigo ver as coisas com mais perspectiva. Eu sinto que consegui criar uma relação muito bonita com os meus fãs”.

Apesar disso, Rachel confessa que nunca teve a pretensão de se tornar um exemplo para outras pessoas. Sendo uma mulher preta, cantando abertamente sobre seus sentimentos e vulnerabilidades e vindo de uma família de imigrantes, ela sabe que as pessoas se identificam com essas experiências. “Isso é mais representativo do que eu poderia imaginar, mas é bom ter uma comunidade de pessoas que já se sentiram da mesma forma, e com as quais eu posso me conectar através da música”.

Enquanto falava sobre seu papel como símbolo de representatividade, Rachel foi distraída pela Agatha, minha gata que passeava atrás de mim, como de costume. Nesse momento, ficou ainda mais claro como conduz sua carreira e por que se tornou um dos nomes mais interessantes do pop-indie: ela sabe lidar com a seriedade de assuntos importantes, sem perder a doçura e gentileza. E é justamente dessa forma que ela quer continuar sendo vista pelos fãs – no Brasil e no mundo.

“Se entregar à própria tristeza é algo muito fácil de fazer, mas eu quero mostrar que pode haver felicidade na vida e no mundo, e vale a pena tentar encontrar esses momentos de felicidade. Por mais que eu tenha passado por coisas tristes e sombrias, também existem coisas pelas quais posso me sentir feliz e grata.”

Rachel Chinouriri na capa digital da Billboard (Lauren Harris/Divulgação)

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