Por que você deveria conhecer Camilo, o último dos românticos
Colombiano é figurinha carimbado no Grammy Latino
Lulu Santos já dizia: “Tolice é viver a vida assim / Sem aventura”, em “O Último Romântico”, faixa que ganhou o Brasil em 1983 e permanece em nosso imaginário. Me arrisco a dizer que você cantarolou ao ler os versos. E eles não poderiam ser mais perfeitos para descrever Camilo, cantor de 31 anos nascido em Medellín, Colômbia, que viu sua carreira tomar rumos inimagináveis enquanto perseguia o amor mundo afora.
Em 2007, Camilo participou da versão colombiana do programa “X Factor”, o mesmo que revelou grandes nomes da música internacional, como a boyband britânico-irlandesa One Direction. Ele venceu a competição aos 13 anos. Dali em diante, sua juventude tomou outro rumo, com o povo da Colômbia atento aos seus próximos passos. Naquele mesmo ano, lançou seu primeiro disco, “Regálame Tu Corazón”. Se você buscá-lo no Spotify, vai ouvir um aspirante ao romantismo, com a voz ainda pouco amadurecida, cantando sobre amor – bem diferente do trabalho atual, que já lhe rendeu três indicações ao Grammy e outras 32 na versão latina da premiação (ele venceu seis estatuetas até agora!).
Apesar da projeção, nada foi muito planejado. “Comecei a fazer música de forma acidental. Eu curtia tocar violão desde os 4 anos e, de repente, virei alvo de muita atenção. Não havia planejado aquilo. Entrei num trem que eu não havia decidido pegar”, confessa à Billboard Brasil. Com a adolescência chegando, lançou “Tráfico de Sentimientos”, em 2010, ainda carregado de afetividade. Mais tarde, chegou a apresentar uma edição do reality que o lançou.
Ainda assim, a sensação de confusão persistia — e foi ela que o levou a assumir o controle do próprio destino. Camilo decidiu puxar o freio. “Eu não tinha controle criativo. Chegou um momento em que pensei: cara, não sei se quero fazer isso… Nem sei o que quero fazer, mas não é isso.”
Ele se afastou dos holofotes, deixou de ser intérprete e passou a compor para outros artistas. Nesse período, também buscou outros caminhos: chegou a ser professor de ioga. “Me afastei do olhar do público, mas continuei fazendo música só para mim”, relembra.
O retorno de Camilo para a música
A grande virada veio em 2015, quando conheceu a atriz venezuelana Evaluna Montaner. Apaixonado, deixou a Colômbia e se mudou para Miami para viver perto dela. “Não fui atrás da música, fui atrás dela. Me apaixonei, mudei para Miami. Lá, conheci pessoas que, do nada, me chamavam para fazer coisas quando descobriam que eu cantava e tocava”, conta. Assim, sua carreira artística voltou a florescer. O pedido de casamento veio em 2018 e a cerimônia, dois anos depois — o mesmo ano em que se relançou na música, agora como um homem adulto, de bigode marcante e coração transbordando de amor. “Foi como morrer e nascer de novo. Quando conheci minha mulher, comecei de novo. Em todos os aspectos criativos.”
“Por Primera Vez”, seu primeiro álbum dessa nova fase, apresenta um artista mais completo, mas ainda guiado pelo romantismo. “Eu não sei de poesia / Nem de filosofia / Eu só sei que a sua vida / Eu quero na minha”, canta em “Tutu”, faixa que lhe rendeu seu primeiro Grammy Latino, como melhor canção pop. Foi ali que percebeu que o distanciamento para se reencontrar valeu a pena. “Ser indicado e ganhar um Grammy é uma confirmação de que qualquer coisa feita com honestidade será celebrada.”
Desde 2020, Camilo tem sido aclamado pelo público e pela crítica. Seus quatro discos lançados desde então foram indicados ao Grammy Latino. Embora não seja movido por prêmios, reconhece neles um impulso para seguir.
Carregar o legado colombiano — país de Maluma, Shakira, J Balvin — também é um desafio.
“Sinto a responsabilidade. Toda vez que dizem meu nome, veem a bandeira do meu país. Me enche de orgulho, porque sei que tudo o que há de interessante na minha música vem do fato de eu ter nascido num país tão diverso. Sou abençoado por isso.”
“Cuatro”, seu álbum mais recente, é descrito por ele como um dos mais desafiadores. Nele, explora gêneros latinos que ainda não havia experimentado, como salsa, cumbia, merengue e vallenato. Confessa que o processo foi cheio de dúvidas e inseguranças. “Cada passo foi algo novo.”
Mesmo assim, ele se divertiu: “Foi um espaço de criação desconfortável — e isso foi o mais interessante. Queria ver o que aconteceria com minha identidade ao fazer coisas que amo, respeito e admiro, mas nas quais não sou especialista.”
Esse disco mudou sua perspectiva sobre o futuro. Agora, Camilo quer que seus próximos passos sejam guiados pela vontade de descobrir o novo. Um deles, aliás, é vir ao Brasil em turnê. Apesar de já ter colaborações com nomes como Anitta e Gusttavo Lima (de quem é fã), o colombiano nunca se apresentou no país. “Minha música é honesta, transparente, orgânica, uma celebração da diversidade e das cores. É algo que os brasileiros e eu compartilhamos”, diz. “Estou sonhando em tocar aí.”
5 músicas do Camilo para conhecer
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Vida de Rico
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Querida Yo (com Yami Safdie)
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Desconocidos
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Bebê (com Gusttavo Lima)
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Tutu (com Pedro Capó)
Destaque no Latin Alternative Music Conference
No último fim de semana, Camilo fez um show marcante para sua carreira no Capital One City Park Foundation Summer Stage. A apresentação aconteceu no icônico Central Park, para uma multidão de fãs.
Durante a performance, ele presenteou o público com uma versão acústica de seu novo single, “Maldito Chat GPT”, além de ter trazido o argentino Yami Safdie para uma participação especial. Juntos, cantaram a colaboração “Querida Yo”.
Camilo também fez parte da programação do Latin Alternative Music Conference, moderada por Leila Cobo, especialista em música latina da Billboard.
Veja o clipe mais recente de Camilo
Essa reportagem foi publicada originalmente na 16º edição da Billboard Brasil. Compre a sua aqui.