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Por que o Geese está levantando um defunto chamado ‘rock’

Por que o Geese está levantando um defunto chamado ‘rock’

Banda lançou 'Getting Killed' e agora é responsável por sacudir o gênero

Alguns consensos chamam a atenção na música. O último vem de Nova Iorque, a partir do álbum “Getting Killed”, do Geese. Os elogios já estão postos e, mais do que isso, a responsabilidade do disco ser um frescor na vida de um gênero moribundo que é o rock.

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A capa traz uma disputa entre um tiro ou um bardo de trombeta, morte ou salvação, e é bem isso que o rock parece destinado: ou morre sem ninguém notar ou, de repente, ganha na mega-sena.

Se o seu algoritmo trabalha com música, você já deve ter visto o ator Cillian Murphy (estrela da série “Peaky Blinders”) culpando o filho por estar obcecado neste lançamento de 2025; no site da Pitchfork, o álbum ganhou nota 9 e a newsletter que você assina, provavelmente, já falou ou vai falar da banda.

A brasileira MargeM, por exemplo, assim escreveu: “o que está ocorrendo com o Geese é mais ou menos parecido com o que tivemos no início dos 00, quando Strokes, White Stripes, Yeah Yeah Yeahs e LCD Soundsystem nos lembraram que o rock poderia ser, sim, sexy, fresh, carregado de energia e relevante para o agora”.

Nesta quinta (2), eles tocaram “Taxes” ao vivo no programa Jimmy Kimmel. A canção é uma das séries de atropelos que o personagem do álbum tomou: abandono de família, cocaína, falta de amor próprio, obediência ao sistema e corrupção.

A grande parada de “Getting Killed” é que, mesmo nessa perseguição de todos e de si próprio consigo, ele acredita em algo —e, aqui, talvez, tenhamos a grande pista deste álbum e da comoção: o pop anda desesperado por boas notícias e o que Winter Cameron oferece acaba, em muitos acordes, sendo algo triunfante —longe de ser algo glorioso, pelo contrário, mas conseguir uma luz no fim do túnel ao som de trombetas angelicais parece glorioso em “Long Island City Here I Come”, que fecha o disco.

Cada resenha possui um fecho de esperança de quem escreve. Em qualquer site. Por exemplo, o pequenino jornal da Universidade de Massachusetts Amherst, assim escreve: “Como entender um EUA onde a crueldade é celebrada e o surreal está se tornando banal? Existe uma maneira de racionalizar tudo o que está acontecendo sem enlouquecer? Geese canaliza a angústia de uma geração que vê seu país desmoronar diante de seus olhos com seu mais novo álbum, ‘Getting Killed'”. A Pitchfork registrou assim, por exemplo: “Winter Cameron chama sua atenção de maneiras chocantes, depois se vira e parte seu coração. Nenhum artista murmurou a frase ‘foda-se essas pessoas’ de forma tão significativa em uma balada de piano”.

Mas, ainda, o melhor foi jornal da Universidade de Queens, que cravou o álbum como “uma trilha sonora bizarra para este momento tenso atual”. “Embora o significado seja obscurecido em muitas das letras do álbum, esta parece ser a tese de ‘Getting Killed’: que em um mundo repleto de incertezas e escuridão, uma das maiores ameaças à vida é não vivê-la de verdade”, escreveu Marijka Vernooy.

“Getting Killed” é já o terceiro álbum de uma banda que, ao contrário das bandas citadas pelo MargeM, não chamou atenção como salvadora do rock pela estreia. Curiosamente, houve paciência para um resgate depois de dois “flops”, coisa que somente um morto, flagelado, desfigurado, combalido rock poderia fazer. Afinal, era o que restava ao pobre da sarjeta: esperar.

“Tá tudo caindo”, Cameron e um coro feito com sua própria voz cantam em “Husbands” bem depois de dizer que até “vai repetir o que estava dizendo, mas que não vai explicar nunca” para não gastar o tempo do interlocutor. “Você não precisa perder seu tempo subindo cem colinas. Mas eu, sim”, diz em meio a um relacionamento que já terminou faz tempo, mas que, por algum motivo, faz o eu-lírico ter algum apego aquilo e que, de repente, as coisas podem mudar e dar certo. É um amor vagabundo pelo otimismo —não porque lutou-se por um lugar melhor. Pelo contrário. Depressivo como nossos tempos, tudo aqui é vagabundo, cansado. Se der certo, deu. Se não der, então tá bom, tamo fudido mermo. Nada melhor do que isso para explicar 2025.

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