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OPINIÃO: Vi Bad Bunny duas vezes — mas Porto Rico foi ainda mais especial

OPINIÃO: Vi Bad Bunny duas vezes — mas Porto Rico foi ainda mais especial

Apresentações marcaram um encontro entre música, história e raízes

Bad Bunny na estreia da turnê

Se você mora em Nova York, Porto Rico nunca parece distante — está na música, na comida, nos vizinhos que sabem de cor as letras de Héctor Lavoe em frente à bodega. Há quase 16 anos, vivo entre nuyoricans, e meu companheiro é um deles — suas raízes estão fincadas lá, embora, até esta viagem, seus pés nunca tivessem tocado o solo da ilha. A residência de Bad Bunny foi a desculpa perfeita para isso acontecer — para ver de perto o maior astro do mundo se apresentar em sua terra natal.

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O primeiro show (11 de julho) foi daqueles espetáculos para se escrever pra casa: energia de perreo, salsa gloriosa e tradições Taíno que pareciam saídas dos devaneios de Benito — tudo isso com fãs porto-riquenhos explodindo de orgulho. Mas a viagem foi além da música: era minha primeira vez na ilha e uma oportunidade de conhecer de perto o lugar que tanto deu ao mundo.

Como alguém que não é boricua (sou mexicano-americana), mas sentiu o peso simbólico do momento, sei que ocupei um espaço ao qual muitos não têm acesso. Estar ali foi um privilégio — especialmente na noite exclusiva para moradores de Porto Rico. Digo isso com consciência: sei que muitos adorariam estar lá, e não tomo como garantido o fato de meu trabalho na imprensa ter me colocado naquela arena.

O que percebi, no entanto, é que a grandeza do evento não estava apenas no estádio, mas no que essa residência representa: conexão, cultura, pertencimento — para porto-riquenhos de perto e de longe, e também para visitantes sortudos como eu.

Quando as luzes se apagaram no Coliseu de Porto Rico José Miguel Agrelot (o famoso El Choli), a expectativa tomou conta. Já fui a muitos shows grandiosos em Nova York, mas este parecia diferente: íntimo. Em meio ao auge da fama global, Bad Bunny estava ali, diante de milhares dos seus, entregando tudo o que tinha.

No sábado de manhã, depois da alta energia do primeiro show, veio algo inesperado, alegre e visceral. Entrei numa caravana em Juncos com ninguém menos que Toñita — a lendária dona do Caribbean Social Club do Brooklyn — sim, a mesma Toñita citada em “NUEVAYoL”, com o verso: “Um shot de cañita na casa de Toñita, PR se sente pertinho.” Ao som dessa frase repetida nos alto-falantes e cercados por motos, cruzamos a cidade como uma celebração viva da cultura, das conexões e do retorno às origens.

A volta de Toñita à sua cidade natal parecia um reencontro. Moradores acenavam das portas e das ruas, enquanto o carro de som anunciava: “¡Es Toñitaaaaa!” Tomamos Medalla Light — a mesma cerveja que recriou uma réplica do bar dela na residência de Benito. Não à toa, ela achou que o título “No Me Quiero Ir De Aquí” (“Não quero ir embora daqui”) era uma homenagem direta — estava estampado por toda parte, das camisetas aos outdoors.

Naquela noite, fui ao Coliseu Roberto Clemente para testemunhar outro lado do legado de Bad Bunny: seu impacto no esporte. O time de basquete que ele co-comanda com o empresário Noah Assad, os Cangrejeros de Santurce, jogava uma partida decisiva contra os Criollos de Caguas. Fui esperando diversão, mas a energia na arena era elétrica.

Santurce não só venceu, como atropelou. O jogo de 13 de julho garantiu a vaga na semifinal — a primeira desde o retorno do time à liga BSN, em 2021. A série terminou com vitória por 4 a 1, eliminando os Criollos. A torcida foi à loucura com a classificação para enfrentar os Vaqueros (em 18 de julho). Mesmo sem ser fã de basquete, me entreguei ao drama. Era mais um lembrete de como Benito tece sua influência no tecido cultural da ilha.

No dia seguinte, a emoção foi outra: voar pelas montanhas de Orocovis. O parque Toro Verde abriga duas das maiores tirolesas do mundo, La Bestia e El Monstruo, que cruzam os vales e picos da ilha. Cortesia da equipe do El Choli, tivemos a chance de experimentar essa aventura — uma visão deslumbrante, no sentido literal e figurado.

Ao cair da noite, era hora de voltar ao Coliseo para mais uma apresentação de El Conejo Malo — desta vez, com participação especial de Jowell y Randy. Benito estava totalmente mergulhado na conexão entre Porto Rico e Nova York, vestido com roupas que remetiam à salsa dos anos 70 e óculos estilo aviador — um look que os fãs nova-iorquinos vão reconhecer e amar quando a residência for aberta ao público internacional em 30 de agosto.

Depois de um fim de semana cheio de shows e celebrações, a segunda-feira trouxe calmaria. Era hora de desacelerar e apreciar a beleza de Porto Rico. Ficamos hospedados no 352 Guest House, no coração do Viejo San Juan — um lugar com charme íntimo, vista para o mar no terraço, jacuzzi e café da manhã delicioso.

Andar por Old San Juan era como caminhar dentro de uma pintura. Ruas de paralelepípedos ladeadas por prédios coloridos e arquitetura colonial espanhola faziam cada esquina parecer mágica. Dos fortes centenários, como El Morro e Castillo San Cristóbal, às igrejas escondidas em praças vibrantes, a cidade mostrava sua história com orgulho. O coração da ilha pulsa ali, entre lojinhas e cafés cheios de vida.

Na terça-feira, achei que já tinha visto tudo o que a residência de Bad Bunny tinha a oferecer. Mas Benito ainda reservava uma última surpresa: a chance de mergulhar mais fundo em seu universo com o pop-up “Seguimo’ Aquí”, montado no Plaza Las Américas. Parte experiência imersiva, parte celebração da cultura boricua, a ativação parecia uma extensão dos shows. Da réplica em tamanho real de uma casa porto-riquenha ao speakeasy secreto com drinques do restaurante Lala, cada detalhe aproximava Benito da vida real de seus fãs.

Porto Rico me deu mais do que eu poderia imaginar: música, história, aventura e uma conexão viva a cada passo. A residência de Bad Bunny foi o gatilho, mas a verdadeira estrela foi a ilha. No me quiero ir de aquí tampoco.

[Este é um texto traduzido da Billboard US. Leia o original aqui]

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