Lauana Prado fala sobre futuro, novos trabalhos e ‘Raiz 3’; leia entrevista
Em entrevista exclusiva, cantora fala sobre nostalgia e futuro do sertanejo
É difícil explicar o acaso. Um passo para a esquerda e você entra em um caminho. Uma troca de olhares e você conhece alguém que vai mudar sua vida. Um dia você decide remexer no passado, naquelas músicas que seus pais ouviam quando eram jovens, e lança um trabalho que vai mudar sua trajetória.
Foi mais ou menos isso que aconteceu com Lauana Prado, quando colocou sua versão de “Escrito nas Estrelas”, de Tetê Espíndola, no mundo. A faixa ganhou as rádios de todo o país depois de Marcia Fu, ex-jogadora de vôlei, cantar um trecho em um famoso reality show. Pronto. O acaso estava feito, e o nome de Lauana foi de promessa do sertanejo para uma das novas caras do gênero, e fez com que o projeto “Raiz”, berço do single, se tornasse uma fortaleza para ela.
Naquele momento, a cantora natural de Goiás (GO), já havia trilhado diversos passos na música (e em outros programas na televisão). Participou de duas atrações comandadas por Raul Gil: “Jovens Talentos” (2011) e “Mulheres que Brilham” (2014). Também foi semifinalista do “The Voice Brasil” (2012), quando ainda usava seu nome de batismo – Mayara – para se apresentar.
Em conversa com a Billboard Brasil, nos bastidores da gravação da terceira edição do projeto “Raiz”, que será lançado nesta quinta-feira (25), Lauana mostra que seu amadurecimento aconteceu de forma natural e é refletido no trabalho que ela exerce atualmente. Dentre causos e confissões, ela falou sobre o futuro do sertanejo e como os detalhes importam.

[Antes de dar play na gravação, perguntei se ela estava nervosa]
Até que estou bem tranquila, sabia? A gente ensaiou muito esse repertório, se preparou muito. Eu estou muito segura de que a gente vai ter uma excelente gravação. Uma banda maravilhosa, a galera super querendo fazer acontecer. Mas tem aquela vontade… “Quero viver muito esse dia”. E tem uma ansiedade boa também. É uma mistura de sensações boas, mas são emoções bem conscientes.
Seu último projeto, “Transcende”, tem tido uma repercussão bem forte. Como isso te pega?
Esse é um projeto que eu tenho um amor muito grande, ele realmente fez diferença na minha vida artística. Esse projeto veio para sacramentar a minha persona artística no mercado, fazer com que as pessoas me entendessem para além dos projetos de gravação. No início, antes de gravá-lo, as pessoas falavam que eu só cantava regravação. E hoje ele é um dos álbuns mais ouvidos do Brasil.
Você sentiu necessidade de sair desse título, de ser “a cantora das regravações”?
Não. Eu recebo poucas críticas na internet, mas quando tem são coisas nesse sentido. Eu não me sentia mal por isso, até porque eu também vejo que muitos grandes artistas fizeram esse movimento. E a gente está falando de artistas que têm um repertório absurdo. Pegaram músicas de outros, regravaram e foram sucessos. Isso pra mim não é demérito. Mas eu entendia que os haters usavam como demérito. E a gente vem mostrando que tem a Lauana do “Raiz” (disco lançado em 2022), mas tem aquela que lança músicas inéditas.
Você vem para a terceira etapa de um projeto que te trouxe muita coisa boa, né? Essa consciência vem disso também?
Eu acho que me apropriei muito desse projeto. Eu o idealizei, e eu falo que eu aprendi a fazer, sabe? É como andar de bicicleta com rodinha. No segundo, eu já tirei a rodinha.

Agora dá pra colocar um motorzinho.
[Risos] Sim. Eu estou muito habituada, consciente. Me preparei muito, entendi muito, estudei muito o comportamento do público consumindo esse produto. Eu entendi a fórmula, e isso me dá muita segurança. Projetos de releitura são feitos todos os dias, mas não puxando sardinha para o meu, eu acho que o “Raiz” tem uma coisa muito da minha personalidade, da forma como eu encaro a minha história. É um retrato musical da minha vida, de tudo que eu vivenciei e de todas as fontes que eu bebi para tornar a artista que eu sou hoje.
O que mudou de lá pra cá?
O primeiro projeto era de muita idealização. Eu acreditei desde o início, mas era tudo muito incerto, uma coisa meio nebulosa. Não sabia como as pessoas iam receber. E hoje se tornou algo mais real, as pessoas se identificaram demais. É um lugar em que as pessoas conseguem viver essa sensação nostálgica. O “Raiz” também tem disso: tem gente que não gosta de sertanejo moderno ou do próprio sertanejo, mas gostam do “Raiz”. Mudou tudo do primeiro para agora. O que era um ideal, hoje é provado, é fato.
Você tem seu lado empresária no sertanejo. Acha que essa é uma tendência do gênero? As labels são o futuro da música sertaneja?
Eu acho que o modelo de label mudou muito, também ampliou um pouco essa possibilidade de várias tribos poderem acessar esses universos. Não sei se seria o futuro, mas eu acho que sim. Nós estamos falando de um mercado muito próspero. Porque são eventos que são construídos pensando no bem-estar de quem tá ali. A gente estuda estatística, comportamento do público, os targets que a gente tem para cada região. Estamos falando de um negócio muito próspero, sim, e que eu acho que a tendência é a gente agradar cada vez mais, entregar cada vez mais qualidade.

Você participa das decisões?
Todas. Absolutamente todas. Desde o mapa do evento até iluminação, banheiro. É importante para mim olhar para os detalhes.
Você não costuma se limitar a trabalhar apenas com sertanejos. Nesse projeto, tem feat com Elba Ramalho; no anterior, teve Nando Reis. Me fala sobre suas escolhas.
Eu gosto de trazer artistas que fazem a diferença de maneira real na música brasileira. São nomes que, além de serem grandes referências para mim, eu posso dizer que tenho acesso. A gente se acompanha, tem um carinho, um pelo outro. E também é uma missão de mostrar para uma geração mais nova quem são essas pessoas. Eu acho que a geração Z não acessou tanto essas personalidades quanto nós, dos anos 1990. Faz parte do meu propósito não só reverenciá-los, mas fazer o público ver a importância deles. Fazer esse intercâmbio de gerações e de estilos diversos.
Você tem uma veia de transformar algo “antigo” em contemporâneo, já é quase uma marca do seu trabalho. Foi algo intencional ou só aconteceu com o tempo?
Eu sempre recebi feedbacks positivos de quem gosta de me ouvir, falando: “Caramba, mana, quando você canta Marisa [Monte] é maravilhoso, pô, quando você canta Cássia Eller é incrível”. Então, tem essa, acho que a minha identidade vocal e a minha personalidade acabam contando muito para que isso aconteça. Isso acaba me munindo de informações de como as pessoas recebem clássicos de maneira repaginada. A gente transforma uma música mais lenta em algo mais perto do arrochinha, até pra deixar mais atraente para a galera nova.

Como é chegar em um trabalho novo depois de uma sequência forte de músicas viralizadas? Em algum momento você para pra cabeça descansar?
Nunca. Ontem mesmo eu estava falando de um projeto que vai rolar ano que vem. Mas é uma coisa boa. Eu sou hiperativa, adoro produzir. Acho que isso me ajuda no meu trabalho, a gente tá falando de um mercado muito aquecido. Até quando eu paro, eu não paro. No terceiro dia já estou com o violão na mão.
Esse tal mercado aquecido, que toda hora revela alguém novo, te deixa nervosa ou ansiosa?
De jeito nenhum. Não pela competitividade, nunca foi por isso. Nunca me coloquei nesse lugar de concorrência. Faço meu trabalho pelo amor que tenho por ele. Faço o meu, quero mostrar quem eu sou. O que vem depois disso é uma grande consequência.
O sertanejo feito por mulheres passa por um momento diferente, representado por você, Maiara e Maraisa… Como você enxerga e o que pensa para o futuro?
A Paula [Fernandes] surgiu depois de muitos anos. E ela veio até muito antes de Marilia [Mendonça], Maiara e Maraisa, em um momento que ninguém estava esperando uma mulher acontecer na cena sertaneja que era um grande clube do bolinha. É por isso que a gente tem esse lugar hoje, com a Paula tendo uma grande responsabilidade nisso. Eu vejo uma evolução maravilhosa acontecendo. Hoje temos mulheres LGBTQIA+ na cena sertaneja, estamos falando de evolução da sociedade, geracional mesmo. E vejo isso com muito bons olhos. Eu faço parte de uma geração que fez toda a diferença, mas se não fosse quem veio antes a gente não teria dado passos tão largos.
Você se sente nesse lugar de representatividade?
Sem dúvidas. Represento muitas mulheres. É bonito, é maravilhoso, é o resultado de muitos anos de trabalho, mas é uma responsabilidade. Não deixa de ser uma responsabilidade, então estou aqui para executar com excelência.
De maneira geral, qual é sua grande expectativa com esse encerramento do projeto “Raiz”? Imagino que seja o encerramento, né?
Pode ser que sim, pode ser que não [risos].
[Risos] Qual sua grande expectativa com esse novo capítulo?
O primeiro “Raiz” expandiu muito meu trabalho. Me levou para lugares ainda mais distantes. E esse tem a mesma magia. Estou com a mesma sensação boa, de oferecer sentimentos nostálgicos e apresentar músicas que soam como inéditas para as pessoas da geração mais jovem, mas que são clássicos.








