Vejo cenários bem distintos sobre o papel da IA na música: de um lado, vislumbramos a IA como uma parceira poderosa e potente, como no caso onde um produtor musical que, com um clique, encontra a timbragem perfeita, economizando horas de busca e trabalho manual de equalização e pesquisa em bibliotecas sonoras. Ou do compositor que explora novas possibilidades de poéticas ou melódicas, com o apoio de uma ferramenta de IA alimentada pela criação desse compositor. Nesse cenário, a tecnologia impulsiona a criatividade humana, e não a substitui. Por outro lado, diante da capacidade e velocidade de produção virtualmente inesgotáveis da Inteligência Artificial, como evitar a proliferação de “música” (ixi, coloquei aspas! Ato falho? Rs) gerada por IA, composta a partir de prompts e referências de sucessos musicais já consolidados? Essa enxurrada de conteúdo (100.000 fonogramas por dia, que tal?) já está acontecendo, gerando no mínimo dois problemas bastante claros: 1) como fica a distribuição do direito autoral da música gerada por IA, especialmente considerando que ela se apropria de criações reais anteriores sem o devido crédito ou remuneração? 2) como artistas reais, vendo a criatividade ser “canibalizada” pela própria IA, (que se alimenta da produção real deles próprios, artistas!) podem se distinguir, no oceano frio dos algoritmos, na competição pela atenção de uma audiência cada vez mais fragmentada?
É claro que vocês já estão acompanhado a novela sobre a banda The Velvet Sundown, que surgiu do nada e em três semanas conquistou mais de 400 mil ouvintes mensais no Spotify. Adivinhem? A banda não existe! Seus membros, fotos e músicas são todos gerados por IA. Lançaram dois álbuns completos, sem redes sociais, entrevistas ou shows de verdade.
Diante desse cenário dicotômico entre parceira criativa e ameaça existencial, paira a incerteza: qual será o impacto real da IA na qualidade da música que consumimos? Será que a facilidade e a velocidade de produção impulsionadas pela IA levarão a uma homogeneização da música, ou a uma explosão de experimentação e novos estilos? E, no longo prazo, como a sociedade valorizará a música criada por humanos em um mundo onde a IA pode replicar e até mesmo superar a criatividade humana? A complexa questão da autoria e da propriedade intelectual se intensificará: qual será o papel do compositor humano em uma música gerada em colaboração com a IA? A quem pertence o “espírito” da canção? São perguntas que a indústria da música, a comunidade artística e a sociedade como um todo precisarão responder, enquanto o futuro da música, entre algoritmos e emoções, segue incerto.
Bom, era pra esse texto parar por aqui, mas fui incentivada a trazer o que eu, Anita, penso disso todo… afinal, qual minha expectativa para esse futuro cada vez tão mais próximo? Devo começar dizendo que a minha bio no Instagram traz uma informação muito relevante sobre mim. Está lá: “Irremediavelmente otimista”. Sim, gente, eu acredito na humanidade, na nossa capacidade de evoluir e se adaptar. Assim como em outros momentos históricos, como a revolução industrial ou o advento da internet, muito se especulou sobre os impactos negativos dessas transformações. Será, que agora, não estaria acontecendo o mesmo? Será que temos realmente que temer um futuro apocalíptico onde os robôs tomarão o controle? Ou faria mais sentido acreditar que nós, como sociedade, encontraremos formas e regulações de usar tudo isso a nosso favor? A revolução industrial trouxe as leis trabalhistas, a internet proporcionou a democratização da informação… É claro que os desafios são imensos, mas se olharmos historicamente, a humanidade nunca esteve tão bem: expectativa de vida e as taxas de alfabetização aumentaram em todo mundo, enquanto que as taxas de mortalidade infantil e o percentual da população em extrema pobreza caíram praticamente. Houve progressos significativos na igualdade de gênero, embora ainda haja muito a ser feito para eliminar a discriminação e a desigualdade. Enfim, meu futuro possível (e preferido) é um no qual a IA atenda aos nossos interesses como seres humanos, não ao lucros das grandes corporações. Gostaria que ela fosse usada como suporte na educação, na medicina, na pesquisa científica, vejo nela uma grande chance da gente aprimorar ainda mais nosso conhecimento, e aplicar esse saber ao nosso desenvolvimento como sociedade. Ingenuidade? Pode ser… mas precisa de um pouco pra ser otimista de verdade, né?
OBS: será que o chatGPT me ajudou com esse texto?
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Anita Carvalho é empresária artística, pesquisadora e especialista em Economia Criativa, com 30 anos de experiência no setor. Fundadora do Music Rio Academy e sócia da Música & Mídia, gerenciou carreiras como as de Beth Carvalho e Diogo Nogueira. Coordena curso na PUC-Rio, apresenta o podcast Criativamente e atua como consultora estratégica no mercado da música.