Veja a história de ‘Leãozinho’ e mais clássicos de Caetano Veloso
Cantor e compositor baiano faz inúmeras homenagens em sua discografia


Dono de mais de 600 composições, segundo o Escritório Central de Arrecadação de Direitos Autorais (ECAD), Caetano Veloso é um dos grandes nomes da música popular brasileira. O baiano tem 60 anos de carreira e 48 álbuns lançados, com uma discografia celebrada como obra-prima.
Ao completar 83 anos nesta quinta-feira, 7 de agosto, a Billboard Brasil celebra o aniversário desse importante ícone brasileiro contando histórias curiosas por trás de suas canções mais famosas.
“O Leãozinho”
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, “O Leãozinho” não se trata, de fato, do animal. A canção, presente no álbum Bicho (1977), é uma homenagem ao músico Dadi Carvalho e foi escrita após o cantor conhecer o baixista no apartamento dos Novos Baianos. Na época, Dadi tinha 17 anos e era conhecido por sua beleza e aura luminosa. O músico era do signo de Leão, assim como Caetano. Na letra singela, a palavra no diminutivo (leãozinho) carrega a ternura e expressa o carinho genuíno do baiano pelo carioca.
“Sampa”
“Alguma coisa acontece no meu coração” – canta Caetano Veloso ao iniciar “Sampa”, uma declaração de amor à cidade. A faixa, presente no álbum Muito (1978), é uma homenagem à capital que recebe pessoas do mundo todo. Como baiano, Caetano dá um tom pessoal a canção, expressando os sentimentos de alguém que chega a São Paulo e tenta entendê-la, vivenciando as experiências de uma metrópole em expansão.
O fato curioso é que a música foi escrita após o cantor ser solicitado a dar um depoimento sobre a cidade em um programa de televisão. Além disso, o verso que cita a esquina da Avenida Ipiranga com a Avenida São João em “Sampa” tem inspiração em “Ronda”, de Paulo Vanzolini.
“Muito”
Regina Casé conta a história no programa Conversa com Bial, da Rede Globo, sobre a composição de “Muito”, que faz parte do álbum Muito – Dentro da Estrela Azulada, de 1978. A atriz e apresentadora encenava a peça “Trate-me Leão”, em 77, da importante companhia teatral Asdrúbal Trouxe o Trombone, no Rio de Janeiro. O cantor e compositor ficou tão impressionado com o desempenho da jovem no palco que resolveu conversar com ela no camarim. A partir daí foram jantar e surgiu uma amizade, que se tornaria um breve romance tempos depois.
Acontece que Caetano tinha viagem marcada para Bahia, sua terra natal, na qual ficaria por muito tempo, e Regina, temendo a grande saudade que teria do rapaz, pediu que ele trouxesse um presente para ela. Ao voltar para o Rio de Janeiro, foi questionado pela atriz sobre a lembrança e o cantor disse que não havia comprado nada, mas que sim, tinha um presente para ela. Em seguida, ele apresentou a canção.
“Menino do Rio”
Em mais uma homenagem, Caetano Veloso fala, em “Menino do Rio”, sobre José Arthur Machado, popularmente conhecido como Petit, um surfista que frequentava o píer da praia de Ipanema e chamava atenção por sua beleza e habilidade com as ondas. Seu espírito livre, estilo de vida e relação com o mar eram admirados por muitos frequentadores do local.
Mas a canção, na verdade, foi encomendada por Baby do Brasil, que pediu ao baiano para fazer uma música em homenagem ao jovem do qual eram amigos. A cantora gravou e lançou-a no álbum Pra Enlouquecer (1979). A canção chegou a ser tema de abertura da novela “Água Viva”, da Rede Globo, em 1980.
Petit, ao sofrer um grave acidente de moto em 87, perdeu os movimentos de um lado do corpo e encerrou a carreira de surfista. Ele tirou a própria vida dois anos depois.
“Cajuína”
Escrita por Caetano em 1979 e presente no álbum Cinema Transcendental, “Cajuína” foi uma forma de expressar o sentimento de luto pela morte de Torquato Neto, poeta piauiense que também era amigo próximo e parceiro musical do baiano.
Caetano foi a Teresina e visitou a casa do pai de Torquato, Dr. Heli da Rocha. O encontro emocionante o fez chorar copiosamente ao ver as fotografias do amigo pelas paredes. Heli tentou o consolar, colhendo uma rosa do jardim e entregando-o. Ele também pegou uma cajuína na geladeira, uma bebida típica do Nordeste, colocou em dois copos e serviu ao baiano. Os dois mantiveram-se em silêncio, apenas chorando.
Na letra, cajuína, como memória afetiva, simboliza o momento de acolhimento, consolo e conforto em meio a tristeza.
A história foi contada pelo cantor durante o “Programa Livre”, do SBT.
“Rapte-me Camaleoa”
Caetano escreveu “Rapte-me Camaleoa” para se declarar a Regina Casé, que atuava na peça “Aquela Coisa Toda” e seu personagem se chamava “Camaleoa”. O relacionamento amoroso dois dois foi breve. A canção é uma homenagem a personalidade e a capacidade da atriz e apresentadora de se transformar e de se adaptar. A música foi lançada em 81 no álbum Outras Palavras. A atriz e apresentadora fala sobre essa relação no programa Conversa com Bial, da Rede Globo.
“Queixa”
Caetano revelou no programa Lady Night que “Queixa”, composta e lançada em 1982 no álbum Cores e Nomes, falava sobre o fim do seu primeiro casamento. Como era algo muito íntimo e pessoal, o artista pediu para a Rede Globo retirar a faixa da abertura da novela “O Homem Proibido”, para que não fosse tocada todos os dias.
“Você é Linda”
Em mais uma declaração de amor, Caetano escreveu “Você é Linda”. A canção, lançada em 1983 no álbum Uns, fala sobre Cristina Mandarino, vizinha do cantor em Ondina, na Bahia. A música é um de seus maiores sucessos e celebra, por meio de poesia, a beleza e força das mulheres.
“Eclipse Oculto”
Também como parte do setlist do álbum Uns, de 1983, “Eclipse Oculto” é uma história sobre uma brochada em uma transa que não deu certo, segundo o poeta Eucanaã Ferraz, que conversou informalmente com o baiano sobre inspirações de suas faixas.
“O Quereres”
Como parte do álbum Velô, em 1984, “O Quereres” também foi feita para sua vizinha Cristina. A letra fala de um desencontro e tem influências da literatura de cordel e também da música de Bob Dylan, conta Ferraz. Tal canção foi regravada em 2017 por Carlinhos Brown e Jaques Morelenbaum para ser tema da novela “A Força do Querer”, da Rede Globo.
“Reconvexo”
Terra natal de Caetano, a Bahia foi a escolhida para homenagem e declaração em 1989. A canção “Reconvexo” foi escrita pelo cantor e compositor, mas gravada na voz de Maria Bethânia, sua irmã. A canção é uma resposta à crítica do jornalista Paulo Francis, que costumava menosprezar a cultura brasileira, especialmente a baiana. Por isso, a música exalta às raízes culturais baianas, bem como suas identidades locais, celebrando ícones como Dona Canô e o samba-de-roda, e refletindo o vínculo com sua terra.
“Odeio e Não me Arrependo”
Escrita para sua esposa Paula Lavigne, “Odeio” e “Não me Arrependo” foram compostas em 2006 e lançada no álbum Cê, mesmo período em que o casal estava se reconciliando após uma separação.
Tal história é contada no livro “Lado C – a Trajetória Musical de Caetano Veloso Até a Reinvenção com a BandaCê”, de Tito Guedes e Luiz Felipe Carneiro.
“Lobão Tem Razão”
O cantor e compositor Lobão lançou a música “Para o mano Caetano” em 2001 com uma crítica. Oito anos depois, Caetano Veloso lançou sua resposta na canção “Lobão tem Razão”, no álbum Zii e Zie.
A relação entre ambos era marcada por admiração e conflito. O baiano, inclusive, disse ao Jornal do Brasil que Lobão estava certo quando disse “chega de verdade” na canção e que sua música era uma resposta direta para ele e indiretamente para sua mulher, Paula, que já havia dito muitas vezes a ele que “Lobão Tem Razão” sobre algumas características de sua personalidade.
“Um Comunista”
Lançada em 2012 no álbum Abraçaço, “Um Comunista” é uma homenagem a Carlos Marighella, um dos líderes da luta armada contra a ditadura militar brasileira. A faixa contem quase nove minutos.
A história também faz parte do livro de Tito Guedes e Luiz Felipe Carneiro.