Turá Porto Alegre 2025 brilha com Ney, Cachorro Grande, Nando Reis e Mano Brown
Festival mais uma vez mostrou a pluralidade da música brasileira
No segundo e último dia de um simbólico Festival Turá em Porto Alegre, o público presente no Anfiteatro Pôr do Sol no domingo (26), pôde mais uma vez ter a experiência de imergir em diferentes vertentes da música nacional.
Logo cedo, os gaúchos da Dingo abriram os trabalhos jogando em casa e entregando um belíssimo show. Prestes a comemorar 20 anos de carreira e já dando início às comemorações de dez anos do álbum “Maravilhas da Vida Moderna”, o grupo apresentou hits do álbum, como “Dinossauros” e “Eu Vim Passear”, assim como apresentou pela primeira vez a faixa “Lembretes”, um dos três singles lançados nos últimos meses.

A performance vocal de Rodrigo Fischmann é sempre algo a ser destacado. Nos últimos anos, o cantor assumiu a postura de frontman, e quem vem nas baquetas desde então é Pedro Petracco, multi-instrumentista conhecido por ser um exímio baterista e pelo vasto currículo tocando ao lado de artistas renomados da cena. Juntam-se a eles Diogo Brochmann (guitarra e voz), Felipe Kautz (baixo e voz) e Fabricio Gambogi (guitarra).
Finalizando a participação local, quem seguiu os trabalhos foi a Cachorro Grande, que, ao som de “Você Não Sabe o que Perdeu”, começou um show embalado pela nostalgia que fez todo mundo cantar junto.
Uma das principais representantes do famoso rock gaúcho, a banda entregou um repertório de sucessos como “Que Loucura!”, “Dia Perfeito” e a imbatível balada “Sinceramente”. O vocalista Beto Bruno falou sobre a felicidade de estar tocando ali e expressou sua ansiedade para curtir o show de Ney Matogrosso.

Na sequência, Nando Reis se apresentou ao lado do filho, Sebastião Reis. Em um show afetivo, o músico embalou a tarde dos porto-alegrenses com sua sutileza e com um repertório repleto de sucessos, como “O Segundo Sol”, “Por Onde Andei”, “Relicário” e “Os Cegos do Castelo”, canção da época dos Titãs que emocionou muito o público, que não o deixou cantando sozinho.

Mal deu tempo para respirar, logo veio um dos shows mais aguardados desta edição: Pedro Paulo Soares Pereira, o Mano Brown. O líder dos Racionais MC’s chegou para apresentar seu repertório, que traz tanto faixas do seu aclamado álbum “Boogie Naipe” quanto clássicos do maior grupo de rap do país. E assim como o primeiro dia do Festival Turá Porto Alegre foi sobre origens e raízes, o homem honrou a tradição com diversas referências — no microfone e nos telões — à sua São Paulo.
Acompanhado por um time de dançarinos e os MCs Lino Krizz e YLSAO, Brown fez sua entrada no palco ao som do sample de “Let’s Dance”, de David Bowie, e abriu os trabalhos com “Gangsta Boogie”, colocando todo mundo pra dançar já de chegada. A temida chuva que ameaçou o final de semana do festival deu suas caras brevemente, mas num momento que veio muito a calhar: enquanto o rapper apresentava “Vida Loka I” e “Vida Loka II”, a água dos céus se misturava com as lágrimas de boa parte do público, impactado pela performance e pela força que ele carrega desde sempre consigo.

Na sequência, em performance suave, o capixaba Silva apresentou faixas autorais e diversas interpretações de canções de ícones como Jorge Ben, Marisa Monte, Tim Maia e Gal Costa — o que fez perfeito sentido em um evento que homenageia a pluralidade da música brasileira. No entanto, a ordem das atrações causou estranhamento: foi praticamente unânime a opinião de que este show teria casado melhor se tivesse sido realizado mais cedo, depois de Nando Reis e antes de Mano Brown.
Por fim, o show mais aguardado do line-up: Ney Matogrosso. Em uma entrada triunfal com seu figurino reluzente, iniciou com “Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua”, canção de Sérgio Sampaio que dá nome à atual turnê de Ney, “Bloco na Rua”.
Em uma jornada musical em que passou por clássicos de sua carreira solo e do histórico grupo que o revelou, Secos e Molhados, a lenda nacional exaltou o emção do público. “Yolanda”, “Fala” e “O Vira”, que colocou todo mundo pra dançar, integraram o repertório junto com interpretações de outros heróis nacionais, como “Jardins da Babilônia” e “Mesmo Que Seja Eu”, dos eternos e saudosos Rita Lee e Erasmo Carlos, respectivamente.

Recebendo declarações de amor e gritos ensandecidos a cada gesto corporal mais ousado, Matogrosso resolveu negociar com a audiência: “Teoricamente, o show acaba agora. Eu ia sair, fingir que não ia voltar, e aí retornaria. Mas eu vou seguir direto e depois a gente encerra, ok?” — disse, antes de emendar uma interpretação de “Como Dois e Dois”, de Caetano Veloso, de arrepiar até o último fio de cabelo, seguida de “Poema”, e “Balada do Louco”, d’Os Mutantes.
Encerrando o bis que não foi bis, colocou todo mundo pra cantar junto a plenos pulmões “Pro Dia Nascer Feliz”, o que foi bastante significativo ao se tratar de uma canção de Cazuza, com quem Ney viveu um romance no início da década de 80.
O astro e a banda se despediram do palco, agradecendo pelo carinho e dizendo que já fazia muito tempo que devia um show para o Rio Grande do Sul. O público começou a se dispersar quando, de repente, ele surpreende fazendo o que disse que não faria: volta e apresenta o clássico “Homem com H”, que recentemente voltou a ser sucesso após a cinebiografia dirigida por Esmir Filho vir ao mundo. Geral foi à loucura, e Ney Matogrosso provou, mais uma vez, que ninguém ama tão intensamente quanto os latinos.
Ano que vem tem mais
A má notícia é que acabou. A boa notícia, no entanto, é que logo tem mais: conforme Maitê Quartucci (head de shows nacionais da T4F) e Gustavo Sirotsky (diretor da Maia Entretenimento) revelaram em exclusividade à Billboard Brasil, o Turá seguirá tendo suas edições em São Paulo e Porto Alegre anualmente.
E como já aconteceu em Recife, em 2024, há ainda a possibilidade do festival expandir para outras cidades do país. Para um evento que celebra diferentes gerações, sonoridades e identidades da música brasileira, nada mais justo.
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