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Contra a violência, Marisa Monte leva ‘Phonica’ ao Rio feliz e forte

Contra a violência, Marisa Monte leva ‘Phonica’ ao Rio feliz e forte

Emocionada, cantora lamentou o massacre que tirou centenas de vida no Rio

Marisa Monte apresenta turnê Phonica no Rio de Janeiro (@matiasmaxxx)

Três dias depois de o Rio de Janeiro viver momentos de terror durante a operação mais letal do país, Marisa Monte chegou à cidade com sua nova e inovadora turnê “Phonica”, que mistura sua banda a uma orquestra regida pelo maestro André Bachur. Acompanhada de 59 “músicos e musicistas” – como ela fez questão de apresentar durante o concerto – a cantora levou ao Brava Arena Jockey, na sexta-feira (31), uma plateia que mais parecia um coro contratado, de tão afinado. Ela não hesitou em colocar seu sentimento de tristeza devido aos últimos acontecimentos. Tanto que, já em seu primeiro contato com seus fãs, antes de apresentar a terceira canção, “O que você quer saber de verdade”, a cantora e compositora – com seu ukelele na mão – desabafou:

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“Eu tenho que agradecer especialmente a presença de todos vocês que estão aqui hoje. A gente teve uma semana muito difícil, para todos nós que sentimos a dor de quem tem um cotidiano atravessado pela impotência humilhante da violência. Eu sou carioca, essa cidade é a minha casa e tenho certeza de que somos muitos corações que não perderam a capacidade de amar, de sofrer pelo Rio e pelo Brasil. Então, eu espero que a música e a arte possam unir nossos corações aqui hoje e possam mostrar para nós um caminho da esperança de dias melhores.”

“Coração” foi a palavra (e objeto) de ordem do show: seus brincos tinham essa tônica, enormes, em acrílico vermelho; a mão esquerda foi levada várias vezes ao peito, para demonstrar que ali batia o dono de sua emoção. No fim do show, a artista comentou que todos ali saberiam cantar “Carinhoso” “de cor”, ou seja, “do coração” – já que esse é o significado da palavra.

Marisa Monte apresenta turnê Phonica no Rio de Janeiro (Matias Maxx)
Marisa Monte apresenta turnê Phonica no Rio de Janeiro (@matiasmaxxx)

E de fato não houve coração que não tivesse tentado sair do peito a cada novidade que a mistura de banda com orquestra apresentasse. Da hora em que entrou no palco, cantando “Vilarejo”, até o Bis, que encerrou com “Carinhoso”, Marisa foi seguida por muitas vozes. Entre uma canção e outra, a artista bateu palmas para quem estava à sua volta: na frente, o público; atrás, os músicos.

Marisa Monte hoje é amada por pessoas de 20 a 60 anos, e “Phonica” confirma que sua obra já permeou diversas gerações e que sua música é universal. Nessa turnê, Marisa fez questão de não subir em um pódio como o do maestro André Bachur, que precisava estar mais alto para ser visto pela orquestra. Ela também permitiu que sua obra ganhasse novos arranjos – assinados pelos compositores Débora Gurgel, Newton Carneiro, Thiago Costa, Jether Garotti Jr. e Ubiratan Marques, esse último da Orquestra Afro-Sinfônica. Com toda liberdade, canções como “Maria de Verdade”, “Magamalabares” e “Panis et circenses” passaram a parecer trilhas sonoras de filmes.

Marisa Monte apresenta turnê Phonica no Rio de Janeiro (@matiasmaxxx)
Marisa Monte apresenta turnê Phonica no Rio de Janeiro (@matiasmaxxx)

No palco, junto com ela, estavam o maestro André Bachur – que chegou a dançar em canções mais animadas como “Não vá embora” – 32 músicos e musicistas da “família das cordas”, 18 da “família dos sopros, madeiras e metais”, 3 da “família dos ritmos, a menor, mais barulhenta”, além dos solistas Talita Martins (harpa) e Daniel Grajew (piano) e dos músicos da banda de Marisa, Dadi Carvalho (guitarra), Alberto Continentino (baixo), Pupillo (bateria) e Pedrinho da Serrinha (cavaquinho e percussão). Ora a banda sobressaía, ora a orquestra se impunha um pouco mais – como em “Ainda bem” e “Amor I love you”. O respeito era claro e mútuo. Em músicas como “Carnavália”, “Depois” e “A sua”, as baquetas de Pupillo se destacaram; já em “De mais ninguém”, “Feliz alegre e forte” e “A lenda das sereias”, o cavaquinho de Pedrinho da Serrinha – a mais jovem aquisição de Marisa, com 18 anos, substituindo Pretinho da Serrinha na trupe da cantora – ficou “on”.

Quando ritmo e harmonia se complementam – isso se viu mais fortemente em “Diariamente”, “Infinito particular”, “Depois”, “Segue o seco” e “Feliz alegre e forte” – a vibração da plateia mudava. O rock em “Cérebro Eletrônico” ficou grandioso com as cordas orquestradas.

Marisa Monte abraça o maestro André Bachur após show no Rio de Janeiro (@matiasmaxxx)
Marisa Monte abraça o maestro André Bachur após show no Rio de Janeiro (@matiasmaxxx)

E as guitarras tocadas por Marisa não tiraram a leveza de sua figura no palco, com arranjo floral na cabeça, ora com o cabelo preso, ora solto, e vestida de branco; primeiro com uma espécie de vestido-kimono de mangas bufantes que, ao ser retirado, deixou-a com um vestidinho de alcinha também da cor da paz. 

À frente de um telão que exibia imagens do que acontecia no palco – idealizado por Batman Zavareze, diretor visual da turnê “Phonica” e de outros trabalhos da cantora –, ela dançava, fazia gestos com as mãos, experimentava vibrar mais sua voz, rememorando os exercícios de canto lírico que tomou quando, ainda bastante jovem, foi estudar na Itália. Feliz, alegre e forte, Marisa Monte estava claramente emocionada por poder cantar para a plateia de sua cidade, abrindo o primeiro de três shows que fará na capital fluminense.

Viva Marisa e seu público carioca, que provam que a arte ainda é o maior gesto de resistência.

Público de Marisa Monte se emociona em show da turnê Phonica no Rio de Janeiro (@matiasmaxxx)
Público de Marisa Monte se emociona em show da turnê Phonica no Rio de Janeiro (@matiasmaxxx)

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