Como o funk de SP vem se misturando com o hip hop americano dos anos 2000
'Montagem dos Anos 2000', destaque no Billboard Hot 100, é um grande exemplo
“Montagem Anos 2000”, do DJ Arana, não para de subir no Billboard Brasil Hot 100. Há duas semanas a faixa ocupava a 18ª posição entre as mais ouvidas.
Nos últimos anos, o funk de São Paulo vem investindo forte no resgate de grandes sucessos do rap e do R&B dos EUA dos anos 2000. Na música de Arana, a referência é o sample de “My Humps“, dos Black Eyed Peas.
Produtores perceberam que uma conexão entre o funk atual e uma espécie de sentimento nostálgico com as produções americanas dos anos 2000 eram uma boa receita de sucesso.
Isso porque as coletâneas de “black” marcaram uma geração e são uma das grandes influências das produções de DJs paulistanos, num fenômeno que ganhou força recentemente.
‘Homenagem aos Relíquias’
Na cultura dos bailes funk, MCs que têm carreira longeva são chamados de “relíquias” por conta da sua trajetória.
O DJ e produtor Matt D teve a ideia de reunir vários funkeiros e fazer uma homenagem aos relíquias, mas não apenas aqueles do funk. A dedicatória englobou artistas do hip hop anos 2000.
“Cada um deu uma ideia [de música que queria homenagear]. Acho que foi um projeto importante. Resgatamos várias músicas que estavam na memória de muita gente”, explica o funkeiro, que é fã de Chris Brown, em entrevista a Billboard Brasil.
A referência foi feita por meio do uso da melodia das canções, caso do MC Vinny, que usou “Beautiful Girls“, de Sean Kingston, e “Window Shopper“, de 50 Cent.
Assine a Billboard Brasil e fique por dentro de tudo o que rola no mundo da música.
Inspiração
“Homenagem os Relíquias” é um projeto de sucesso no funk. Ele teve cinco edições e acumula mais de 200 milhões de visualizações no YouTube. E essa repercussão fez com que outros produtores e DJs passassem a investir ainda mais em produções nesse estilo.
Temos, por exemplo “Gol Bolinha, Gol Quadrado 2”, de MC Pedrinho, que ocupou o topo das paradas musicais e faz referência a “Low“, do rapper Flo Rida.
Outro caso é “Primeiro Beck Ela Me Mamou“, de MC Guizinho Niazi, MC Kitinho, Silva MC e DJ Deivão. A música usa a melodia de “Smack That“, de Akon, e ainda faz uma brincadeira com a fluência do inglês dos artistas.
“Eu mesmo não era um fã, alguém que ouvia muito rap americano. No entanto, na minha casa tinham aqueles DVDs cheio de videoclipes”, diz DJ Deivão, explicando a influencia indireta pelo fenômeno dos anos 2000.
Akon, inclusive, é uma espécie de queridinho dos funkeiros e um dos mais usados nas canções —ele tem até uma beat com seu nome.
Mas e a autorização?
Nenhuma das produções citadas contou com a autorização dos envolvidos, o que pode gerar problemas jurídicos mais para frente.
A velocidade para construção do trabalho e a ideia de que barreiras comerciais poderiam impedir o lançamento foram usadas como desculpas para a falta de contato, dizem artistas e produtores.
Porém, até o momento, nenhuma grande confusão estourou na mão dos MCs.
“A gente fez quase todo o trabalho em uma semana, a música e o clipe. Na semana seguinte, nós lançamos. É muito dançante e encaixou com o público”, explicou Pedrinho, em entrevista anterior para a Billboard Brasil.
Sobre o Billboard Brasil Hot 100
O Billboard Brasil Hot 100 classifica as músicas mais ouvidas no país e se baseia na atividade de streaming dos principais serviços de música no território, conforme compilado pela Luminate. As classificações se baseiam em uma fórmula ponderada que incorpora fluxos oficiais apenas em assinaturas e camadas de serviços de áudio e vídeo com suporte de anúncios. Atualizamos os charts semanalmente, às terças-feiras, e referem-se aos dados da semana anterior.