O negócio da música é jogado em dois tabuleiros simultaneamente. Na superfície, a indústria da música parece girar em torno de uma única métrica: o sucesso imediato de um lançamento. Charts semanais, playlists editoriais, virais no TikTok e as primeiras 24 horas dominam o discurso. Essa é a lógica dos artistas de front (abreviação de frontline, que significa “linha de frente”), cujas canções são projetadas para performar rapidamente. Muitas vezes desenhadas para dialogar diretamente com tendências sonoras e comportamentais do momento, tendem a ser mais efêmeras e perecíveis. Por natureza, vivem sob a lógica da substituição: um novo lançamento chega, e o anterior se torna passado. Demandam campanhas intensas de marketing, alto investimento e presença contínua para alimentar algoritmos e manter a roda girando, sempre em torno de picos intensos e curtos.
Mas quem observa com atenção o ecossistema fonográfico sabe que essa é apenas uma parte da história. Nas profundezas da engrenagem, há os artistas que jogam um jogo bem diferente. São aqueles cujas músicas não precisam nascer com explosão e são menos dependentes de tendências passageiras ou de picos de atenção. Mesmo seus novos lançamentos já nascem com vocação de catálogo e seguem relevantes muito além da janela inicial de lançamento. Suas obras permanecem sujeitas a descobertas contínuas ao longo dos anos, em contextos variados. Não precisam de aprovação imediata dos algoritmos porque o valor está no tempo, e não no estouro instantâneo.
Esses artistas são responsáveis por construir o ativo mais valioso do negócio da música: um catálogo vivo e perene, que se valoriza com o tempo e garante longevidade artística e financeira. São obras que, anos depois, continuam sendo ouvidas, sincronizadas, regravadas e reinterpretadas. Geram receita de forma orgânica e constante, sem depender de grandes campanhas. Uma música lançada hoje pode encontrar seu público daqui a cinco anos numa série, numa trilha de filme, numa playlist temática ou até em uma nova trend viral de rede social.
É válido lembrar que há também casos híbridos: artistas que transitam entre os dois mundos. Alguns nascem no front e depois se tornam de catálogo; outros, mais autorais, decidem jogar o jogo da alta frequência, aprendendo a dialogar com a lógica do agora sem abrir mão da profundidade.
Essa distinção entre artistas de front e artistas de catálogo raramente é nomeada com clareza. Não se trata de uma divisão estética ou estilística, mas de duas formas profundamente distintas de existência e de impacto no mercado. Nenhum dos dois perfis é mais “nobre” ou mais “correto” que o outro. Eles cumprem papéis diferentes e complementares. Enquanto os artistas de front buscam relevância imediata e fluxo constante de atenção, os de catálogo constroem lastro e valor de longo prazo.
Em suma: lançamento é momento; catálogo é legado. Essas duas forças complementares, juntas, mantêm a indústria de pé. Entender e respeitar essa dualidade e desenhar estratégias específicas para cada uma talvez seja, hoje, a chave mais importante para quem quer construir carreiras musicais sólidas e duradouras na era do streaming.
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Felipe Simas é empresário artístico responsável pelo gerenciamento de carreira das artistas Anavitória e Manu Gavassi. Os produtos fonográficos lançados pela sua agência musical F/SIMAS ultrapassam a marca de 4 bilhões de streams nas plataformas digitais e já conquistaram 6 Grammys Latinos. Na área do entretenimento ao vivo, contabiliza mais de dois mil shows realizados
