Brasil não é a próxima grande aposta musical — está acontecendo agora
Peter Robinson analisa como o país vem crescendo no mercado musical
O mundo não olha mais para o Brasil como promessa distante, e sim como palco central da música global. Prova disso é a chegada do Tiny Desk Brasil — versão nacional do icônico projeto da NPR, gravada em São Paulo com plateia e curadoria local — e a força dos artistas brasileiros na última edição do festival The Town, onde nomes como Karol Conká, Matuê, MC Cabelinho, Pitty e Capital Inicial dividiram espaço com headliners internacionais em palcos principais como Skyline e The One. Esses movimentos confirmam que o Brasil não é o futuro: é o presente.
E essa presença global não surge do nada. Imagine uma batida pesada de trap de São Paulo ecoando numa block party em Paris. Esse não é o som do amanhã — é a cultura musical do Brasil, dominando o agora. Como alguém que acompanha essa evolução há anos, eu vi isso chegando muito antes da indústria global prestar atenção. Do balanço contagiante do funk carioca à crueza do trap underground de São Paulo, o Brasil não estava apenas entrando na conversa — estava prestes a redefini-la.
Brasil no mercado da música
No entanto, por muito tempo, muitos ignoraram isso. O Brasil sempre foi o gigante adormecido da música global — um ecossistema vasto e autossuficiente, com estrelas locais, mídia forte e um idioma, o português, falado nativamente por apenas 3,7% da população mundial. Ainda assim, prosperou sem precisar de aplausos internacionais.
A mudança começou nas ruas, mas os números demoraram a aparecer — até que não demoraram mais. Em 2022, o IFPI classificou o Brasil como o 11º maior mercado musical do mundo. Em 2023, a América Latina liderou o crescimento global da música gravada com 25,9%, com o Brasil na dianteira. Avance para 2024: o Brasil cresceu 21,7% e conquistou o 10º lugar mundial, impulsionando o aumento regional de 22,5% na América Latina — o mais rápido do mundo. Ainda assim, quando propus a criação de divisões dedicadas ao Brasil para grandes distribuidoras, a resposta foi um educado “ainda é cedo”. Eles não estavam prontos para se comprometer de verdade.
Então, nós mesmos demos o salto. Criamos pontes com lançamentos como o álbum 4-4-2 de Orochi, com a participação de Larry June na faixa transcontinental “4am Nas Américas”, trouxemos o produtor multiplatinado AzizTheShake, de Los Angeles, para trabalhar no “Trap The Fato” de Derek, e promovemos o projeto de trap underground do N.A.N.A., com colaborações com ícones do underground americano como Jace, Slump6s e UnotheActivist. Esses não foram apenas pontos de contato — foram sinais de um futuro sem fronteiras.
Para turbinar essa ascensão do Brasil, nos unimos à On The Radar, uma das maiores plataformas de descoberta de artistas, para lançar a On The Radar Brazil — sua primeira campanha internacional. O resultado? Mais de 100 vídeos brutos de performances ao vivo, mais de 10 faixas entrando no Viral 50 Brasil do Spotify, e um burburinho que ecoou das favelas de São Paulo até as salas de reunião em Los Angeles.
O que o diferenciou não foi só o talento — foi o ecossistema por trás. Destacamos produtores como Pedro Lotto, arquiteto da revolução do trap em São Paulo, e Uriel, Head de A&R da Pineapple, o principal hub de música ao vivo do Brasil. Suas visões enraizaram o projeto nas profundas raízes culturais brasileiras.
Pedro Lotto resumiu bem: “Os produtores do Brasil conseguem transformar qualquer subgênero em algo único, dando aquele toque brasileiro na produção — algo que só a gente daqui costuma fazer, o que acaba se destacando.”
Uriel compartilhou uma visão ainda maior: “Conectar a nossa arte com as iniciativas internacionais abre a visão tanto do brasileiro para o mundo quanto do mundo para o Brasil. A gente tem uma cultura muito diversificada e somos autossuficientes pela quantidade de gente que temos no nosso país consumindo nossa própria cultura. Com um idioma pouco falado mundialmente, sair da nossa bolha e nos conectar com novas culturas não só mostra mais da nossa cultura, como também prova que o Brasil não é só bunda e futebol.”
Também abraçamos sabores regionais além do funk e do trap, como o brega emocional de Grelo, cuja performance de crossover misturou emoção crua com apelo universal.
Como Grelo refletiu: “Acho que a gente nunca se acostuma com as surpresas da vida. Quando eu escrevi minhas primeiras músicas, nunca imaginei que faria parte de algo tão grande internacionalmente. Todo mundo merece uma chance de correr atrás dos seus sonhos — até daqueles que a gente nem sabia que tinha.”
O Brasil está se afirmando de forma institucional e simbólica. Dois exemplos recentes mostram que o país não está na “fila de espera” — ele já está no palco: o lançamento do Tiny Desk Brasil e a força dos artistas nacionais no The Town.
O efeito dominó foi rápido. O funk brasileiro virou um modelo global, influenciando lançamentos em diversos gêneros e países. O som inspirado no funk de “FEEL”, de Cash Cobain, explodiu nas redes sociais e agora é presença certa em palcos de festivais. O álbum Damaged Thoughts, de Bay Swag, mergulha ainda mais nessa vibe, com a produção refinada de Jaasu infundindo “Caicos” — um som ensolarado e com pegada de ilha — com a malícia de São Paulo que está ressoando no mundo todo. A estrela ganesa Amaarae, com o álbum Black Star (lançado no mês passado), entrelaçou a pulsação percussiva do funk brasileiro, como na faixa de abertura “Stuck Up”, misturando com Afrobeats e trance, criando um hino de pista de dança da diáspora que já está recebendo elogios da Pitchfork. E ainda a artista global Tyla, com a faixa “IS IT”, imersa em influências de funk.
A artista de Toronto SadBoi, da LVRN, colaborou com Duquesa em “cunty”, uma faixa de funk brasileiro puro que está chamando a atenção. Até o titã do hip-hop Pi’erre Bourne deu um co-sign para a dupla N.A.N.A., nascida em Gana e criada no Brasil, após o freestyle deles no On The Radar.
Isso não é uma moda passageira — é um realinhamento sísmico, respaldado pelos números: o Brasil cresceu 21,7% em 2024 e alcançou o 10º maior mercado de música do mundo, segundo o último relatório do IFPI, com a América Latina puxando um crescimento regional de 22,5%. As noites londrinas pulsam com DJs brasileiros; gravadoras correm atrás de pontos de entrada. Artistas do mundo todo estão se conectando — de colaborações a co-produções. O alicerce? O Brasil colocou décadas atrás, com cenas resilientes e criatividade incansável.
O que começou como um palpite meu agora está moldando as paradas. O Brasil não está esperando sua vez — está liderando o desfile.
A pergunta para a indústria não é “se”, mas “quão rápido você consegue acompanhar?”
Peter Robinson, CEO da Olympus Projects, empresa de gestão de artistas e consultoria musical








