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Há algo de muito errado com a saúde de Ozzy Osbourne

Há algo de muito errado com a saúde de Ozzy Osbourne

Ozzy Osbourne

A Billboard Brasil teve acesso ao capítulo “O demônio desperta” da derradeira autobiografia de Ozzy Osbourne chamada “O Último Ritual”. O texto foi publicado na nova edição da revista. Abaixo, leia o capítulo e as reflexões de Ozzy sobre a vida e envelhecer nos palcos, a “droga que tem um efeito único”, segundo o Príncipe das Trevas.

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Black Sabbath (Instagram/ @rosshalfin)

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O demônio desperta

 Pouco antes de completar 70 anos, tive um pensamento repentino.

Gostaria de saber quando a gente começa a se sentir velho?

Quero dizer, lá estava eu, seis anos mais velho do que meu pai quando ele deixou este mundo e, no que me diz respeito, eu ainda era basicamente jovem.

Certo, minhas mãos e pernas estavam um pouco trêmulas, graças ao meu Parkinson. Eu estava ficando surdo. Minha memória de curto prazo estava ruim desde 1992. Mas eu conseguia correr pelo palco em Donington Park por duas horas, disparando uma arma de espuma contra a multidão. Eu conseguia cantar “War Pigs” e “Crazy Train” sem errar uma nota. E embora uma parte de mim sentisse falta dos tempos selvagens – quando acordava no meio de uma rodovia de doze pistas ou surfava no teto de um teleférico suíço –, eu estava feliz por poder relaxar em meu quarto de hotel depois de um show com meus amigos de quatro patas: Wesley, Pickles, Elvis e Rocky (que Deus o tenha).

Em muitos aspectos, nunca estive tão bem fisicamente. Eu dava uma olhada no espelho e pensava, puta merda, estou melhor agora do que no vídeo de “Bark at the Moon”… e isso foi há quarenta anos! Não que seja difícil parecer melhor do que um cara que tomava quatro garrafas de conhaque por dia.

A questão é que envelhecer acabou não sendo nada parecido com o que eu esperava.

Quando eu estava crescendo em Aston, você tinha sorte se chegasse à idade de se aposentar. Na maioria das vezes, você simplesmente cairia morto no chão da fábrica. Quando meu pai faleceu com 60 e poucos anos, nenhum de nós, da família Osbourne, achou estranho. Para nós, ele era um ancião. Naquela época, quase ninguém chegava aos 70 anos. Os poucos que o faziam eram tão enrugados que faziam Gandalf, de “O Senhor dos Anéis”, se parecer com Timothée Chalamet. Parecia que pedaços deles caíam quando saíam do bar.

Mas não era meu caso, nem de perto.

Aos 69 anos de idade, eu ainda estava fazendo turnês pelo mundo. Ainda fazia programas de TV. Ainda ficava me mostrando com grandes casas em Los Angeles e Buckinghamshire. E, todas as noites, eu mergulho na cama como fazia desde que era criança e morava no número 14 da Lodge Road.

Uiiiiiiiiiiiiii…

BAM.

“OZZY!!!”, minha esposa Sharon gritava. “Por que você não pode se deitar na cama como uma pessoa normal?”

“Você não gostaria de mim se eu fosse normal.”

“Você vai quebrar essa maldita cama, seu idiota!”

Ha-ha-ha.

Ah, sim… foram dias maravilhosos.

Quando a morte ainda parecia ser algo que só acontecia com outras pessoas.

 Agora, obviamente eu não sou a melhor pessoa para perguntar sobre datas ou qualquer outra coisa. Há buracos tão grandes em minha memória dos anos 1980 e quase todos os anos 1990 desapareceram. Mas a cadeia de eventos deste livro começou no final de 2018 – por volta de outubro, creio eu – quando estava na metade do que deveria ser a minha turnê de despedida.

Chamava-se “No More Tours II”, provavelmente eu deveria mencionar. A “No More Tours” original tinha acontecido nos anos 1990, antes de me dar conta de que existe um limite de tempo que você pode passar no quintal usando galochas antes de ficar totalmente doido. Mas desta vez, com meu aniversário de 70 anos se aproximando, eu estava pensando seriamente em diminuir o ritmo. Sharon estava até falando que eu deveria fazer uma daquelas residências em Las Vegas quando eu terminasse. Não que eu gostasse da ideia de me tornar o próximo Barry Manilow.

Olhando para trás agora, é claro que eu deveria saber que o cronograma era ambicioso demais. Veja bem, sessenta shows em quatro continentes não é brincadeira para nenhum cantor, não importa a idade dele. Mas, do meu ponto de vista, era a minha despedida dos fãs em lugares onde eu sabia que não voltaria a tocar.

Para ser sincero, antes do início da turnê eu estava preocupado se alguém compareceria aos shows. Fazia alguns anos que eu não caía na estrada. Até onde eu sabia, não conseguiria encher um armário de vassouras, muito menos sessenta grandes arenas. Mas, no final, a “No More Tours II” acabou se revelando um sucesso absoluto. Da Cidade do México a Moscou, Toronto e São Paulo, todos os shows tiveram ingressos esgotados. E toda a vibração da coisa, desde o design do palco até o ânimo das plateias foi absolutamente fenomenal.

Todas as noites, antes de fazer minha entrada, imagens da minha vida passavam em um telão enorme acima do palco. Uma velha fotografia em preto e branco minha quando era criança, ainda com calças curtas, com medo da própria sombra. Uma foto colorida na época do Black Sabbath, usando uma camisa de camurça com borlas e um colar que, na verdade, era uma pequena colher de cocaína. No palco com o grande Randy Rhoads –Deus o abençoe, Randy, onde quer que você esteja– para promover o “Blizzard of Ozz”. Tudo misturado com efeitos de chamas e trechos do clipe de “No More Tears”, com um coro cantando a “Carmina Burana” de Carl Orff.

DUH, DUH, DUH-DUH!!

DUH, DUH, DUH-DUH!!

DUH-DUH-DUDH DUUUUUUH DUUUUUH, DUH DUH!!!

Então, eu saía correndo das laterais com um longa capa roxa enquanto Zakk Wylde rasgava o riff de abertura de “Bark at the Moon”, o cabelo solto, pernas empinadas, parecendo um viking prestes a incendiar uma aldeia. Acredite em mim, não há nenhuma droga no mundo que se aproxime desse tipo de efeito. Eu sei bem, já tomei todas elas.

Até as “críticas” foram boas, o que me assustou um pouco. Os críticos tinham odiado tudo o que eu já havia feito, então se eles tivessem mudado de ideia agora, talvez eu estivesse fazendo algo errado. Mas eu não me importava, estava me divertindo muito.

O que a tornou ainda mais especial foi a ausência de qualquer tensão nos bastidores. Quero dizer, Zakk não é apenas um dos melhores guitarristas do mundo, também é um dos caras mais adoráveis e íntegros que você jamais conhecerá. Muitas pessoas nesse negócio só querem falar com você quando está no auge. Zakk não é assim. Ele sempre me ajudou, não importava o que estava acontecendo, sem fazer perguntas. No alto da plataforma da bateria, enquanto isso, Tommy Clufetos, um cara cuja ideia de diversão é ir à academia e dormir cedo. Tommy tem me mantido longe de problemas há anos. No baixo, Rob “Blasko” Nicholson, que está ao meu lado há tanto tempo quanto Tommy. E nos teclados, Adam Wakeman, cujo pai, Rick, eu conheço desde que ele tocou em “Sabbra Cadabra”, do Black Sabbath –por dois pints de [cerveja] Directors amarga. Não acho que vou revelar nenhum segredo nacional se disser que Rick era meio pé-de-cana na época. Por isso nos dávamos tão bem.

O que estou tentando dizer é que a “No More Tours II” era como estar com a família. E os fãs pareciam estar se divertindo tanto quanto nós. Todas as noites, eu ouvia dezenas de milhares deles, cantando as letras de tudo, de “Fairies Wear Boots” a “Crazy Train”. Uma coisa mágica pra caralho, cara.

Mas, como sempre acontece comigo, o diabo estava a apenas alguns passos atrás.

SERVIÇO – “O Último Ritual”

Autor: Ozzy Osbourne
Tradução: Marcelo Barbão
Editora Belas Letras
ISBN LIVRO: 978-65-5537-512-1
Páginas: 400
Formato: 22,5cmx 15,5cm
Peso: 690g
Preço de capa: R$149,90

Capa do livro de Ozzy Osbourne

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