O Planet Hemp rodou o Brasil com a turnê de despedida “A Última Ponta”. Neste sábado (15), a trupe de Marcelo D2 e BNegão tem um show histórico no Allianz Parque , em São Paulo, com as participações especiais de Emicida, Seu Jorge, Pitty e abertura do BaianaSystem.
A banda conversou com a Billboard Brasil sobre a alegria de celebrar três decadas de amizade, relembrou a importância do fundador Skunk, que morreu de AIDS antes da banda estourar, e refletiu sobre o legado que o Planet Hemp deixa para a música e o ativismo no Brasil.
Os garotos suburbanos cariocas deixam uma marca de coragem por falarem de tabus quando o Brasil tinha acabado de sair da ditadura militar.
Leia a última entrevista do Planet Hemp à Billboard Brasil
O que vocês vão sentir falta no Planet Hemp?
Marcelo D2: A saudade da banda no palco é uma parada que vai ser difícil, mano, mas é nobre terminar assim. Estamos em um momento muito bonito. A palavra feliz não combina com o momento, mas sinto que estamos em um momento nobre. Saudade e tudo mais faz parte da vida.
BNegão: Sim. Tem uma energia do Planet Hemp que só o Planet Hemp vai ter. Isso é certo. Esquece. E tem uma parada que o Marcelo fala faz um tempo que é o Gurufim. Tipo um ritual de origem africana de celebração. Não para lamentar, mas sempre comemorar comendo, bebendo e tudo de bom que a trajetória teve. A gente encara desta forma.
O que mais marcou vocês na turnê de despedida da banda?
Marcelo D2: A presença do Skunk. É constante a presença em tudo que é lugar: no palco, no pensamento, no ensaio. Ele é a pedra fudamental e puxou nós todos para esse barco. Ele é fundamental para as escolhas que a gente fez durante a vida também, sabe? A coragem kamikaze de escolher os caminhos, de fazer a banda. A gente tem 32 anos e nunca deu brecha, tá ligado, Alexandre? Firme e forte, atividade e combate. É difícil, mas isso é fruto do Skunk. Eu sou um cara de suburbio e quando eu conheci ele, Bernardo, Yuka, Black Alien, esses caras avançados pra caralho, super cultos. Eu tive o privilégio decrescer com esses caras. Foi foda. Sentir ele presente faz todo o sentido.
BNegão: Nós continuamos quase como tributo ao Skunk e virou uma coisa gigantesca no Brasil e na América do Sul… mas não era o programado (risos) Em alguma medida, deu errado (mais risos). A gente era underground com o rap na golden era. E entramos pras cabeças.
E qual show marcou a trajetória?
BNegnão: Vários. É difícil. Mas fui lembrado esses dias dos shows no Olympia e no Palace. Lançamento do disco “Os Cães Ladram Mas a Caravana Não Pára”. Teve uma ação policial de tal forma para cercar o lugar por conta da fama de “maconheiros mais perigosos do Brasil”. A galera comenta que teve assalto na cidade inteira porque a polícia veio em peso vigiar o show do Planet. Tipo assim, fizemos essa movida na cidade muito louca. Os caras cismaram com a gente. Eu lembro que a gente saiu do show com roupa diferente com roupa da equipe para sair fora sem problema. Dlibrando os homens da lei. Queriam prender a gente de todo jeito e conseguiram em Brasília. É muita história. A minha felicidade e orgulho de participar dessa bagunça aqui é saber que foi uma banda que moveu o Brasil no estilo do rap, do rock, com som diferente, e pra agitar a política do país.
Vocês entendem que a versatilidade musical do Planet Hemp é uma referência para artistas e bandas novas?
BNegão: Muita gente talvez tenha se influenciado pela versatilidade musical, mas eu vejo muitos pelo lance de influenciar pela coragem da gente. De bater de frente no estilo de letra e levada de som. O Planet Hemp foi fundamental para moldar o rap como é feito no Rio de Janeiro. O sotaque é uma riqueza do Brasil. A Pitty é um exemplo dessa coragem. Ela conheceu a gente batalhando fita demo. Me correspondia por carta pra agitar show. É difícil colocar algo tão pessoal no palco. A gente fica “peladão”, mostrando o seu intimo para a galera. Eu vejo essa coragem no Seu Jorge, no Emicida, na coragem da Pitty, a coragem do BaianaSystem. Cada um tem seu som, mas essa liga da coragem me deixa felizaço. Isso fica. e também para a população procurar seu espaço. Batalhar um espaço era uma guerra.
Qual é o grande legado do Planet Hemp?
Marcelo D2: Nos anos 1990, quando a gente começou, tinha uma questão com a liberdade de expressão. Não essa liberdade de expressão abraçada pela extrema direita: falar merda e cometer crime. Aquele momento no país precisava sacudir alguma coisa. O que a gente trouxe e o que a gente fez nessa contribuição da cannabis, da maconha, foi levar esse assunto à mesa. Eu lembro que quando a gente foi preso, o que eu mais ouvia era “pô, foi a primeira vez que eu conversei com o meu pais sobre a legalização.” A gente tirou esse manto.
“Tiramos o manto sobre a ilegalidade da maconha das páginas policiais e colocamos na mesa de jantar”, completa BNegão.
Não é uma guerra contra as drogas. É uma guerra por território e poder. Mas a gente conseguir trazer uma discussão nas letras foi importante. A ilegalidade da maconha não é só para “poder fumar meu baseado em paz”. Tem um sistema violento por trás.
BNegão: São centenas de milhares de pessoas presas à toa, sabe? Por causa de uma planta. Eu sou feliz com o nosso legado por a gente ter sido os primeiros agentes sociais catapultados nas FMs para um monte de gente pensar diferente. Falamos de forma adulta e recorrentemente sobre as questões sociais. A maconha foi vetor para falar de questões sociais do Brasil
Marcelo D2: E enquanto isso, fumamos pra caralho (risos).








