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Paulinho da Viola, 82 anos: um guia para ouvir o ‘príncipe do samba’

Paulinho da Viola, 82 anos: um guia para ouvir o ‘príncipe do samba’

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O encontro de Paulo César Batista de Faria com um tal de Canhoto da Paraíba , em 1959, mudaria as coisas na música brasileira. Não foi uma revolução porque o tal do Paulo César é um sujeito muito do pacato, pouco afeito a coisas intempestivas como, por exemplo, mudar o rumo da música brasileira. Ele se tornaria Paulinho da Viola pouco tempo depois e mora até hoje no coração da música brasileira.

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Completando 82 anos nesta quarta (12), a Billboard Brasil preparou um guia para você adentrar a densa obra deste cantor, compositor, violonista, cavaquinista e portelense carioca. São 17 discos fazem três décadas de elegância, virtuosismo e, por vezes, experimentalismo.

Samba na Madrugada, 1968 —com Élton Medeiros

Este álbum inaugura a discografia de Paulinho e traz também a voz linda do parceiro em composições quase sempre do próprio Paulinho —à época com 26 anos.

Depois do encontro com o exímio Canhoto da Paraíba, Paulinho foi atravessado por outros encontros. Hermínio Bello de Carvalho, por exemplo, levou-o para o bar Zicartola, de Dona Zica e de seu ídolo Cartola. Compondo com regularidade por volta de 1964, ele passou a acompanhar Clementina de Jesus como parte do conjunto Os Cinco Crioulos. Foi neste grupo que se deu com Élton Medeiros e acabou criando uma amizade de irmão. Élton já era parceiro de peixes grandes como Cartola, de Hermínio, de Kleber Santos e de outros nomes da escola de samba da qual ele fazia parte, a Aprendizes de Lucas.

O próprio Paulinho resenha: “‘Samba na Madrugada’ foi uma surpresa. Nessa época, a gente estava acompanhando a Clementina: eu de violão, o Elton fazendo ritmo”. Curiosamente, “Samba na Madrugada” só tem uma composição de Paulinho com Élton: “Rosa de Ouro”. “As outras músicas que gravamos são composições só minhas (como “Arvoredo”, “14 Anos”, “Jurar com Lágrimas”); minhas com outros parceiros, como Candeia (“Minhas Madrugadas”) e Casquinha (“Recado”); composições só do Elton (como “Minha Confissão”, “Sol da Manhã”); e parcerias do Elton com outros, como Cartola (“Sofreguidão”, “O Sol Nascerá”), Zé Keti (“Mascarada”) e Mauro Duarte (“Maioria sem Nenhum”)”, diz Paulinho.

Foi Um Rio Que Passou Em Minha Vida, 1970

Só pelo nome, você já entende que é de um clássico que estamos falando. Imortalizado pelo sucesso que crava o nome na capa, “Foi Um Rio Que Passou Em Minha Vida” inaugura um Paulinho da Viola radiofônico, cantado pelo samba como hino. Neste disco, além deste marco musical, você vai ver que a obra musical de Paulinho da Viola compartilha alguns conceitos com a bossa nova, como o resgate de compositores do passado, o deslocamento do acento rítmico da frase linguística em prol da frase melódica, a economia de temas, favorecida pela riqueza harmônica dos encadeamentos de acordes, e o despojamento da linguagem. Ele também teve contato com o tropicalismo, de quem herdou o gosto pela poesia. A informação musical da bossa nova e a informação poética da tropicália têm grande influência na sua obra, além do samba tradicional e do choro.

Prisma Luminoso, 1982

Os anos 1970 de Paulinho da Viola são fantásticos e representam grande parte de sua popular obra. Por favor, escute. Faça isso por você. Mas sendo isso um guia, nos interessa também destacar “Prisma Luminoso”, do início dos anos 1980 que traz um compositor ainda mais experimental do que já sempre foi —mas experimental a seu jeito, pacato, comendo pelas beiradas, sem reivindicar nada a não ser querer fazer samba —e homenagens.

Este disco, além da capa belíssima, traz Paulinho sambista mas também homenageando João Bosco, Djavan e Gilberto Gil na canção maravilhosa “Cadê a Razão”. Um quase samba-rock, mas também um quase samba-jazz e, de repente, surge um teclado e metais em brasa. “Onde anda essa razão que há pouco estava ao meu lado?”, ele pergunta.

O disco traz ainda a regravação de “Mas Quem Disse Que Eu Te Esqueço” de Dona Yvone Lara e o quase-pagode “Documento”, mostrando que aquele compositor estava interessado em ver a música pop pelo samba. A mais linda do disco é a calma “Retiro” (dos versos “você conhece minh’alma / e quando quer me visita”).

Nervos de Aço, 1973

Voltando aos anos 1970, é impossível não destacar “Nervos de Aço”, que traz seu título da pungente letra de Lupicínio Rodrigues. A rigor, Paulinho era um compositor muito atento a outros compositores e, por isso, também um intérprete ímpar. Com capa linda de Elifas Andreatoo disco tem canções angustiadas, que sugerem alguma busca (seja de amor, calma ou paz). Não foi fácil viver nos anos 70 no Brasil e o compositor usa o samba de forma elegante para expor a agonia de seu tempo.

Clássico e que se tornou o mais cultuado de Paulinho. Aos 30 anos de idade, era um músico e poeta já com lastro popular. Para a Rolling Stones, o jornalista Pedro Só escreveu que ele também era “respeitado desde cedo pelos maiores artesãos do samba de morro (Zé Kéti, Cartola, Candeia), com vivência autêntica em escolas (Portela, Unidos de Jacarepaguá); mas também é um artista engajado nas questões políticas e estéticas de seu tempo (por um ano, ele fez parte de um célula comunista junto do parceiro Capinan). E, claro, é o cara que tinha feito ‘Sinal Fechado’ em 1969”.

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