Durante quase uma década, o sertanejo universitário dominou as paradas e ditou a trilha sonora do Brasil. Mas em 2025, uma guinada inesperada trouxe de volta ao topo um gênero que nasceu nas rodas de samba do subúrbio carioca e moldou a identidade musical do país: o pagode. Segundo dados da Pro-Música Brasil, o estilo é hoje o gênero mais ouvido nacionalmente, desbancando o sertanejo após sete anos de hegemonia.
O símbolo dessa retomada atende pelo nome de Menos é Mais. O grupo brasiliense transformou um clássico de Alejandro Sanz, “Corazón Partío”, em “Coração Partido”, que se tornou a música mais executada do primeiro semestre: mais de 500 milhões de streams no Spotify e YouTube. Ao lado de faixas como “P do Pecado”, o hit consolidou o pagode como o som do momento, com letras de amor e superação que dialogam diretamente com a emoção coletiva.
Se o Menos é Mais encabeça a nova onda, o movimento não teria chegado tão longe sem o fenômeno Tardezinha. Criado em 2015 por Thiaguinho, o projeto começou pequeno, resgatando sucessos dos anos 1990 e 2000 em apresentações intimistas.
Dez anos depois, se transformou em uma marca cultural: shows em estádios, como o Maracanã lotado com 70 mil pessoas, álbuns ao vivo e uma estética de celebração ao pôr do sol. O Tardezinha cumpriu um papel essencial de reativar a memória afetiva de toda uma geração, ao mesmo tempo em que apresentou clássicos do pagode às novas audiências.
Thiaguinho, hoje, é mais do que um cantor solo: é um embaixador do gênero, conectando passado e presente, e criando uma atmosfera coletiva que prepara o terreno para os novos protagonistas.
O sucesso não se restringe a Menos é Mais ou Thiaguinho. Dilsinho, Ferrugem, Sorriso Maroto, Turma do Pagode, Péricles e Pixote aparecem com regularidade nas principais paradas de streaming, mantendo o gênero em alta rotação. A eles se soma um fenômeno singular: Ludmilla, que com o projeto Numanice conquistou o Grammy Latino de Samba/Pagode e ampliou os horizontes do estilo. Sua presença fortalece a representatividade feminina no pagode e ajuda a projetá-lo para além das fronteiras brasileiras, com shows lotados em todo o Brasil e recorde de venda de ingressos.
Apontamos três fatores centrais para explicar a guinada do pagode em 2025.
O primeiro é a nostalgia revisitada: uma geração que cresceu ouvindo Raça Negra, Soweto e Exaltasamba agora reencontra essas sonoridades em novas roupagens.
O segundo é a autenticidade: enquanto o sertanejo universitário investiu em superproduções, o pagode conquistou corações com vídeos simples, gravações ao vivo e proximidade com o público. Por fim, a força das redes sociais transformou rodas de pagode em virais no TikTok e no YouTube, multiplicando o alcance do gênero.
Mais do que uma tendência passageira, o pagode vive um momento de consagração cultural. O gênero que nasceu nos quintais cariocas retorna ao centro da indústria fonográfica com números impressionantes e uma base popular sólida. Em 2025, o pagode não é apenas o som mais ouvido do Brasil — é também um reflexo da busca por coletividade, leveza e emoção genuína na música.
Números do pagode: a batida do sucesso
- +500 milhões de streams de Coração Partido (Menos é Mais) no 1º semestre de 2025 (Spotify + YouTube)
- Pagode volta a ser o gênero nº1 no Brasil, segundo Pro-Música Brasil — após 7 anos de reinado do sertanejo
- Grammy Latino de Melhor Álbum de Samba/Pagode conquistado por Ludmilla com Numanice
- Top 100 rádios (maio/2025): Menos É Mais ocupa as duas primeiras posições com Coração Partido (#1) e P do Pecado (#2)
- Pagode é hoje o ritmo brasileiro mais exportado em playlists latino-americanas do Spotify
Fátima Pissara é escritora, mãe, CEO da @billboardbr e da @mynd e foi Indicada Dirigente da Indústria de Comunicação 2021, Game Changer 2022 e Woman to Watch 2022
